Giovana Cortelleti Caetano*
Outubro, 2021
As brutais formas de desigualdade econômica que existiram no Brasil desde o primeiro momento da colonização portuguesa passaram por múltiplas etapas, advindas de séculos de exploração, governança por meio de oligarquias e manutenção de privilégios para os poucos no topo da pirâmide que levaram ao que nossa nação é hoje. Embora no início do século XXI medidas desenvolvimentistas e de combate à pobreza houvessem levantado a possibilidade de uma mudança estrutural direcionada para um sistema econômico humanizado, tal período não foi duradouro, tendo como um grande impacto a recessão econômica de 2015 e por consequência, o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e posse de Michel Temer.
Apresentando uma queda do PIB de 3,8% em 2015 e posteriormente de 3,6% em 2016, aqueles que mais vivenciaram os efeitos da crise foram os brasileiros que já possuíam menor poder aquisitivo. Em 2014 os 50% mais pobres detinham 5,7% da renda do trabalho, esse número cai para 3,5% em 2019, a taxa de desocupação saiu de 6,5% no final de 2014 para 13,7% no inicio de 2017. Entretanto, no período de 2014 até 2019, os 10% mais ricos do país que detinham 49% da renda do trabalho passaram a deter 52% desse valor.
A crise e seus efeitos foram mais perceptíveis para as pessoas de classes sociais mais baixas, estes que sofriam com desemprego, queda do poder de compra, redução da qualidade de vida e instabilidade financeira; em contrapartida as medidas tomadas pelas autoridades políticas não se mostraram favoráveis a combater esta situação, como a aplicação do teto de gastos ao estabelecer um limite orçamentário pelos próximos 20 anos e a reforma trabalhista ambos durante o mandato do ex-presidente Michel Temer.
Avaliando os dados do Índice de Gini, método utilizado para mensurar a concentração de renda, entre os anos de 2012 e 2015 as grandes regiões brasileiras apresentaram um progresso passando de 0,540 para 0,524. Nos anos seguintes da recessão a desigualdade no país tende a aumentar e em 2018 o valor do índice é de 0,545, porém recua brevemente para 0,543 em 2019 demonstrando uma estabilização razoável, mas ainda em uma posição muito pior do que alguns anos anteriores.
Com o início do governo Bolsonaro em 2019, os planos de seu ministro Paulo Guedes baseados em privatizações e reformas na previdência demonstraram um perigo ainda maior aos avanços sociais de assistencialismo e proteção ao trabalhador que já estavam sendo desarranjados. O primeiro ano de mandato do ex-militar foi marcado por acontecimentos como a alta do dólar, aumento de preços de alimentos básicos e crescimento do PIB abaixo das expectativas.
De forma abrupta o Brasil foi atingido pelo Coronavírus no primeiro trimestre de 2020 e uma abundância de medidas imprudentes foram tomadas. Teorias negacionistas, descaso com a medicina, negligência às medidas de isolamento social e recusa de compra de vacinas intensificaram o caos político, econômico e social brasileiro no último ano. Com o crescimento do desemprego e desigualdade social, o Brasil retorna ao mapa da fome e cerca de 15% dos domicílios estão em situação de insegurança alimentar grave. A medida tomada de disponibilizar o auxílio emergencial em abril de 2020 para cerca de 68,2 milhões de brasileiros se iniciou com os valores de R$600 até R$1200 e reduziu a taxa de pobreza extrema para 2,4% e a de pobreza para 20,4%, mas em 2021 os valores e o número de beneficiários foram reduzidos para uma média de R$150 até R$375 e atingindo 45,6 milhões de famílias.
Com a desigualdade e desemprego em alta somados a mais de 600 mil mortos pelo Coronavírus que em grande maioria seriam evitáveis em uma gestão governamental séria, não é nítida uma perspectiva de melhora. Problemas complexos são resolvidos com seriedade e comprometimento, de maneira oposta às soluções milagrosas e impraticáveis que vêm sendo propostas atualmente. Futuramente será um desafio superar a deterioração dos índices sociais transcorrendo nos últimos anos, se isto for de interesse de quaisquer que estejam no poder, não será uma tarefa simples.
NOTAS
*Aluna de graduação em Economia na UFPR e estudante bolsista do PET Economia UFPR.
REFERÊNCIAS
Síntese de indicadores sociais : uma análise das condições de vida da população brasileira : 2020 / IBGE, Coordenação de População e Indicadores Sociais. – Rio de Janeiro : IBGE, 2020.
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua
BARBOSA, R. J. Estagnação Desigual: Desemprego, desalento, informalidade e a distribuição de renda do trabalho no período recente (2012-2019)
Tags: Covid-19, Desigualdade, Economia Brasileira